Conheça os principais tratamentos para essa articulação (uma das mais solicitadas do corpo), que vão desde medicamento via oral até o uso de células-tronco
Desde bebezinho, a criança mexe as pernas, dobrando e esticando os joelhos. Talvez este seja um dos movimentos mais precoces do ser humano. Depois, ao engatinhar, esfrega os pobres no chão. Quando finalmente vira bípede, o peso do corpo passa a agir sobre essa articulação, gerando uma carga a mais. Aí vêm os esportes, o sobe e desce de escadas, o sobrepeso. Não é a toa que a articulação está entre aquelas que mais sofrem no corpo. São várias as lesões que podem afetar o joelho, tanto as traumáticas, causadas por tombo ou esporte, quando as degenerativas, resultado de alguma doença. O ortopedista Mario Ferretti, doutor em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP) Albert Einstein, em São Paulo, explica porque o joelho sofre tanto, e quais são os principais tratamentos.
Principais problemas
O joelho é uma das articulações do corpo que mais sofre. Conheça algumas das lesões mais comuns:
:: Artrite: há mais de 100 tipos. As mais comuns são a osteoartrite, uma degeneração da cartilagem que afeta o osso, e a artrite reumatoide, doença autoimune. O tratamento depende muito do tipo da doença, mas normalmente se usa analgésico, para aliviar a dor, e injeções de ácido hialurônico.
:: Lesões do ligamento cruzado: muitas vezes não provocam dor, mas causam instabilidade. Casos mais sérios (como quando há rompimento total) podem necesitar de uma cirurgia.
:: Lesões do menisco: essa cartilagem pode estirar com a rotação do joelho. Casos mais simples podem ser resolvidos com fisioterapia,e os mais graves demandam cirurgia.
:: Lesões do tendão: vão desde uma inflamação até o rompimento total. Normalmente são provocadas por atividades físicas que envolvem salto. O tratamento inclui analgésicos, aplicação de gelo e repouso.
:: Osteomalácia: é um defeito na mineralização do osso, que costuma aparecer em idades maisavançadas. Causa dor e microfraturas. Normalmente está ligada à carência
Por que tanta gente sente dores no joelho?
Mario Ferretti: Dos membros inferiores, o joelho é a articulação que mais permite mobilidade, por ter uma extensão grande de movimento. Além disso, colocamos muita carga sobre ele, que pode ser resultado de esportes ou de sobrepeso. Quando um desses fatores se une a uma musculatura enfraquecida, aparecem os problemas.
Quais são os problemas mais comuns?
São de dois tipos: degenerativos e traumáticos. A osteomalácia e a osteoartrite são exemplos de doenças degenerativas, que costumam aparecer depois dos 50 anos. Entre as lesões traumáticas estão a do ligamento cruzado anterior e as do menisco. Muitas vezes, se há uma lesão degenerativa, basta um trauma pequeno para comprometer o joelho.
Que fatores provocam as lesões degenerativas?
Idade, sobrecarga. A qualidade do tecido diminui, da mesma forma que a pele perde o vigor e o cabelo fica branco. O joelho não gosta de extremos. O sedentarismo acelera o surgimento dos problemas, assim como a sobrecarga
Quando um paciente chega ao seu consultório, dizendo que está com dor no joelho e que não sofreu nenhum trauma, como começa a investigação?
O primeiro passo é conhecer a história clínica, para saber se há uma degeneração. Ou seja, peço para o paciente me contar onde e em que situações a dor aparece. Depois, parto para o exame físico, que inclui: olhar se o joelho está inchado, se está vermelho, quente, sinal de inflamação ou infecção. Depois vem a inspeção dinâmica, que envolve mexer na articulação, ver se a patela sai para o lado, verificar se o joelho é voltado para dentro (varo) ou para fora (valgo). Faço também uma apalpação dos pontos que podem vir a causar dor, como os tendões e o menisco, e realizo manobras específicas, empurrando a patela para o lado, testando os ligamentos, para ver se estão rotos. Depois do exame físico completo, parto para um exame radiológico: a radiografia. Se for necessário, prescrevo uma ressonância, que pode mostrar o grau de lesão de uma cartilagem ou de uma degeneração do menisco.
A maior parte dos problemas é resolvida apenas com medicamentos?
Na maioria dos casos, o que se aplica é o tratamento conservador, sem cirurgia, que envolve medicamentos e atividade física. O grande problema do joelho é a falta de força muscular. Fortalecimento e alongamento da musculatura da coxa já causam uma melhora de boa parte do problema. Mas é importante que a atividade física seja orientada por um médico, conforme a patologia.
Em que consistem os tratamentos não cirúrgicos?
Analgésicos e anti-inflamatórios precisam ser usados quase sempre. Há também os condroprotetores que, no Brasil, são considerados medicamentos, mas nos EUA são complementos alimentares. Trata-se de compostos de sulfato de glucosamina e condroitin, substâncias que normalmente fazem parte da cartilagem. Funcionam bem, principalmente para os casos de artrose. Todos esses são medicamentos via oral. Podemos ainda indicar ao paciente a viscosuplementação; uma infiltração de ácido hialurônico que aumentará a viscosidade do líquido sinovial, lubrificando a articulação.
O que acontece quando essas drogas não funcionam?
Aí, partimos para a cirurgia, que é o caminho usado, também, para boa parte das lesões traumáticas. Ela serve, principalmente, para recompor estruturas do joelho que ficaram muito comprometidas, como ligamentos que se romperam. Mas, se a pessoa tiver mais idade, e não desempenhar uma atividade física intensa, não precisa operar. Um caso interessante é o de rompimento de ligamento cruzado. Esse ligamento serve para dar estabilidade ao corpo durante o movimento. Se ele se rompe, o joelho falseia, e o paciente não consegue praticar atividade física. Mas alguns pacientes que cooperam, não fazem a cirurgia e continuam a praticar esportes, normalmente. É o caso do Mark Waller, atual campeão de futebol americano. Há alguns estudos tentando identificar quem são as pessoas que tem uma musculatura boa o suficiente para compensar a ausência do ligamento, o que parece ficar em torno de 30% da população que sofre lesão.
Como é o pós-operatório de uma cirurgia de joelho?
Sempre que se mexe no osso haverá dor no pós-operatório. O desconforto é comum em casos de traumas ou de uma osteotomia para corrigir joelho torto. Mas com as drogas de hoje, isso é controlável. E praticamente não se usa mais imobilização. Eu ponho o paciente para mexer a perna imediatamente.
O paciente não precisa mais ficar em repouso após a cirurgia?
Depende, em alguns casos você não pode pôr carga. É o caso da cirurgia de cartilagem. Mas, apesar de não poder colocar o peso, pisar, o paciente deve mexer o joelho.
Quais são as principais cirurgias de cartilagem?
Um dos procedimentos para corrigir processos degenerativos ou lesões traumáticas de menor extensão é a realização de perfurações no osso. A cartilagem não recebe sangue, por isso é de difícil regeneração. Com as pequenas perfurações ósseas, o sangue chega à cartilagem e formase um tecido fibrocartilaginoso.
Que outro tipo de intervenção pode ser feita na cartilagem?
O transplante osteocondral. O médico retira entre 8 mm² e 1 cm² de cartilagem de uma área do joelho que recebe pouca carga, e o implanta em uma área que recebe mais carga. Esse procedimento funciona bem para lesões pequenas. Se forem grandes, pode-se fazer um transplante com osteocondrócito de cadáver. Esses procedimentos podem ser feitos por artroscopia, uma intervenção minimamente invasiva, em que não há a necessidade de se abrir o joelho.
Qual será a evolução desse tipo de transplante?
Alguns grupos já substituíram o transplante de condrócito, que são as células presentes no tecido cartilaginoso, pelo transplante de células-tronco retiradas da medula óssea. Com o estímulo correto, elas se transformam em condrócitos.
O procedimento não usa células de cordão umbilical porque pacientes adultos - que sofrem com lesões de joelho - ainda não têm essas células armazenadas.
Como deve ser o tratamento de joelho, no futuro?
Há várias pesquisas apontando para a eficiência de drogas herbais, que podem ser úteis, também, para tratar problemas ortopédicos. Acredito no aperfeiçoamento das terapias que já estão em uso. A viscosuplementação poderá ser feita com ácido hialurônico e células-tronco, que irão aderir à cartilagem. As cirurgias devem diminuir, por conta da prevenção. Se você trata uma osteoartrose desde o início, não precisa operar, pois ela não progride.
JOELHO: Manual do Usuário
Algumas atitudes preventivas ajudam a poupar o seu joelho:
:: Pratique exercícios físicos, para manter fortalecida a musculatura da perna. Dê preferência àqueles de baixo impacto, se você for iniciante.
:: Alongue a musculatura com frequência.
:: Evite sobrecarga, principalmente aquela causada por obesidade.
:: Use salto alto com moderação, porque ele provoca uma retração da musculatura e compromete o equilíbrio muscular.
:: Escolha um tênis que ajude a absorver o impacto. E lembre-se de que esse calçado tem vida útil.
:: Evite ficar com o joelho dobrado, por muito tempo, em ângulo superior a 90 graus. Por exemplo: não dirija com o banco muito próximo do volante. É melhor ficar com as pernas mais esticadas. ele provoca uma retração da musculatura e compromete o equilíbrio muscular. Escolha um tênis que ajude a absorver o impacto. E lembre-se de que esse calçado tem vida útil. Evite ficar com o joelho dobrado, por muito tempo, em ângulo superior a 90 graus. Por exemplo: não dirija
Nenhum comentário:
Postar um comentário